no âmbito da homenagem a Paulo Trancoso
pelo Festival Internacional de Cinema do Porto.
Um filme que já andou um pouco por todo o lado, mas no Porto, um dos seus lugares chave, vai ser apresentado pela primeira vez.
Desde a sua estreia mundial no 17º FIDMarseille – Festival International du Documentaire de Marselha em 2006 onde foi galardoado com o prémio para melhor banda sonora, este filme já foi apresentado no Japão (Festival de Yamagata onde recebeu o Mayor's Prize), na Espanha (Documenta Madrid, onde recebeu o prémio de honra do júri), no Canadá (9º Rencontres du Cinéma Documentaire de Montréal) na Bélgica (12º Festival Filmer à Tout Prix em Bruxelas), no Brasil (Fórum doc em Belo Horizonte), em França (Festival Traces de Vie em Clermont-Ferrand e Etats Géneraux du Documentaire de Lussas), na Itália (XIº Roma Film Festival e 6º Festival I Mille Occhi de Trieste), na Argentina (9e BAFICI Festival Internacional de Cinema Independiente de Buenos Aires), no Chile (14º Festival de Cine Valdivia), em Portugal (DocLisboa, Cinemateca, Doc'sKingdom, ) etc.
1957. Um grupo de camponeses e camponesas da aldeia de Peroguarda, no Alentejo, vai cantar ao Porto. O poeta António Reis, futuro realizador de Trás-os-Montes e Ana, ouve esses cantos em companhia de jovens amigos. Conquistado, António Reis, toma o caminho de Peroguarda, 700 km ao Sul, montado na sua motoreta com um gravador debaixo do braço. No seu encalço, outros jovens do Porto irão ao Alentejo ao longo dos anos seguintes. (...) Entre eles, Luís Ferreira Alves, Alexandre Alves Costa, José Mário Branco.
1959. Michel Giacometti, o corso que salvou a música tradicional portuguesa,começa uma pesquisa de 30 anos durante a qual recolherá a memória da cultura popular. Não tarda a descobrir a aldeia de Peroguarda onde regressará periodicamente. É lá que, em conformidade com o seu desejo, será enterrado em 1990.
1965. No Porto, o jovem poeta Manuel António Pina, e outros jovens aspirantes a poetas escolhem António Reis como referência.
1966. O cineasta Paulo Rocha, um dos realizadores que iniciou o Cinema Novo português com o seu primeiro filme Verdes Anos, decide rodar a segunda longa-metragem no Furadouro, situando a história no meio dos pescadores que na infância o haviam fascinado.
Estas e outras pessoas fazem parte de uma tribo informal cujos membros se reconhecem quando se encontram.
Diz-se que, na morte, se vem sempre de longe,
ao encontro de alguma coisa.
Reencarnamos no reconhecimento de uma voz,
e qualquer voz longínqua nos traz a certeza familiar
de não termos estado nunca sozinhos.
Porque nos reconhecemos nos bancos de jardim
onde nunca estivemos sentados.
Porque a lembrança que se extingue,
é na memória que perdura.
Que mistério de memória é essa,
a da vida que, rasurando,
escreve de novo o que não deixa de sentir?
Sérgio Godinho
Poema original para “Encontros”
Depois de acabar Polifonias, filme dedicado a Michel Giacometti, nasceu o desejo de não deixar perder tudo o que me tinha sido oferecido ao longo da rodagem e que não tinha utilizado na montagem final, cantos, narrativas, poemas que foram gravados e que a sua memória arriscava perder-se se não fossem integrados num novo projecto. Sabê-los esquecidos numa caixa, não me agradava nada.
Havia também o desejo de percorrer alguns dos caminhos que me tinham sido indicados durante esse tempo: a vinda de António Reis (na altura poeta e não ainda cineasta) ao Alentejo, à aldeia de Peroguarda, onde Michel Giacometti, em conformidade com o seu desejo, será enterrado, e outros que queria percorrer, aproximar-me por exemplo do filme de Paulo Rocha, Mudar de Vida, que me fascinava nomeadamente pela inscrição e interacção entre a história que é contada e o fim das campanhas do Furadouro. Daí nasceu o início do projecto de "Encontros" que procurava segundo o texto inicial « circunscrever a presença de uma tribo sonora, musical e poética, humana, uma tribo analógica e surpreendente cujo território não corresponde a nenhum território geograficamente conhecido"
A preparação e depois a rodagem fizeram com que, o que deveria ser uma articulação foi-se tornando autónomo. Da "continuação" de "Polifonias", "Encontros" tornou-se um filme completamente independente, mesmo se se encontram diversas personagens e lugares do filme precedente, a tal ponto que a matéria recolhida na altura de "Polifonias" (talvez ainda demasiado "fresca") não encontrou o seu lugar na montagem final.
Da rodagem de "Polifonias" apenas restam em "Encontros" dois ou três minutos dois planos de paisagem e o fragmento de um canto corso. (Encontrar uma forma de não perder o que foi recolhido durante a rodagem de "Polifonias" fica portanto um trabalho ainda a fazer !)
Pouco a pouco foi-se definindo o que subterraneamente constituia uma das facetas de Encontros : o eco de um passado, de um tempo que chegou ao fim, de uma cultura que se apaga, mas um eco onde ressoam invocações. Não se tratava de lamentar um desaparecimento, nem de um regresso nostálgico ao passado, nem mesmo de trazer para o presente fragmentos do passado mas, a partir da memória, dar lugar ao que está vivo. É aí que o filme, tem para mim uma estranha relação com o tempo. Misturam-se ou confrontam-se diferentes tempos "históricos", a cronologia perde o seu sentido, as datas não têm verdadeiramente nenhuma importância. O passado já não ocupa o lugar que lhe é normalmente atribuído.
Este território e este tempo estranho deixam todo o espaço, espero, àqueles que o povoam : Virginia Dias, Mighela Cesari e Mighele Rafaelli, Paulo Rocha, Manuel António Pina, Nicole Casalonga, José Mario Branco..., espaço ainda para aqueles que o habitam com a sua voz : António Joaquim Lança, Sérgio Godinho e, embora não o não vejamos nunca, talvez por isso ainda mais presente, a do poeta António Reis.
Este filme é dedicado a Antoine Bonfanti que acompanhou todos os meus filmes desde há muitos anos. O seu desaparecimento fez-me recear o trabalho sobre o som e nomeadamente as misturas. No entanto o trabalho de misturas com Joaquim Pinto, acompanhado de Tiago Silva, sobre os sons gravados por Francis Bonfanti dissipou todos os meus receios (e valeu ao filme o prémio do melhor som no Festival de Marselha).
ENCONTROS (2006)
realização Pierre-Marie Goulet
com a colaboração de Teresa Garcia
director da fotografia Bruno Flament
som Francis Bonfanti
montagem Pierre-Marie Goulet
montagem som Tiago João Silva
misturas Joaquim Pinto
com
Virgínia Maria Dias, Agostinho Brissos Pereira,
Mighela Cesari, Mighele Rafaelli,
Nicole Casalonga, Jérôme Casalonga, Nando Acquaviva,
Carlos Guerreiro, José Manuel David, Rui Vaz
Paulo Rocha
e os habitantes do Furadouro que entraram em "Mudar de Vida",
familiares e amigos
Manuel António Pina
Poema original de Sérgio Godinho dito por ele próprio
Poema de Joaquim António Lança dito por ele próprio
e as vozes de António Reis
filme Mudar de Vida realização de Paulo Rocha
com Geraldo Del Rey, Maria Barroso, Isabel Ruth
fotografias de Michel Giacometti
António Cunha, Luis d'Orey
fotografias de Joaquim António Lança
e da Tia Vitorina
Luís Ferreira Alves
Povo que Canta, A Mulher da Roda
programa de Michel Giacometti
realização Alfredo Tropa
arquivos RTP
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uma coprodução
Costa do Castelo Filmes, Portugal
Athanor, Portugal,
Zarafa Films, França
com R.T.P. Portugal
France 3 Corse, França
e com o apoio financeiro de
ICAM / MC
Centre National de la Cinématographie, França
Planicie Dourada Região de Turismo de Beja
Cópia Beta Digital - Duração 105 minutos - Cor/Preto - Stereo
Estreia Mundial: 7 de Julho de 2006 no 17e FID Marseille (Festival International du Documentaire de Marseille - Prémio do Melhor Som)
© 2006 Costa do Castelo Filmes - Athanor - Zarafa Films
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